03/11/2009

Tássia Regino escreve sobre CORA CORALINA

Este ano se comemora os 120 anos de nascimento da escritora Cora Coralina, que nasceu Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, na Cidade de Goiás em 1889 e faleceu em Goiânia em 1985. Em sua homenagem o Museu da Língua Portuguesa está exibindo a mostra " Cora Coralina: coração do Brasil",  que ficará em exibição até o dia 13 de dezembro e eu fui ver. A mostra é pequena para a obra de Cora Coralina, pseudônimo que adotou a Aninha, mas traz muito do universo de Mulher simples, doceira de profissão, que teve uma vida bem mais agitada do que a média das mulheres do seu tempo, e que apesar de ter vivido longe dos grandes centros urbanos, e mesmo da educação formal, produziu uma obra poética muito rica. Falando sobre quem é Cora Coralina, ela dizia de si: "Sou mulher como outra qualquer. / Venho do século passado / e trago comigo todas as idades. (...) Sou mais doceira e cozinheira / do que escritora, sendo a culinária / a mais nobre de todas as Artes: / objetiva, concreta, jamais abstrata / a que está ligada a vida e a saúde humana."

A exposição ocupa o 2º andar do museu e é composto por lindas imagens do universo pessoal de Cora (fotos de fachadas de casas de Goiás Velho, paredes de adobe, o mítico casarão da ponte e os doces feitos por ela) e trechos de suas poesias. Tem um vídeo com declarações da própria Cora Coralina e documentos inéditos, como os manuscritos dos seus diários, originais de seus livros e correspondências trocadas com grandes escritores brasileiros, como Jorge Amado e Drummond.

É de Drummond, aliás, um dos textos mais bonitos sobre Cora, publicado no "Caderno B" do "Jornal do Brasil" de 27de dezembro de 1980, e que está na mostra, onde ele diz que "Cora Coralina, para mim, é a pessoa mais importante de Goiás, mais do que o governador, as excelências, os homens ricos e influentes do Estado. Entretanto, uma velhinha sem posses, rica apenas de sua poesia, de sua invenção, e identificada com a vida como é, por exemplo, uma estrada."

Eu trago ela a vocês hoje, por meio dos seus versos.  Abraços, Tássia Regino

   

Alguns versos soltos da exposição:

   

"Entre pedras que me esmagam

Montei a pedra rude dos meus versos"

   

"Eu sou estas casas encostadas

Cochichando umas com as outras"

   

"Eu sou a velha mais bonita de Goiás"

   

"No acervo do perdido,
no tanto do ganhado
está escriturado:
- Perdas e danos, meus acertos.
Lucros, meus erros"

   

ASSIM EU VEJO A VIDA


A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.

  

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