30/08/2010

A LUCIDEZ DE MILTON SANTOS

I don't do art for a living, neither for perso...                                            Image via Wikipedia

Tássia Regino  escreve sobre o documentário sobre o geógrafo Milton Santos :
O assunto da semana é um Documentário muito legal que assisti  estes dias e que explora pensamento de Milton Santos, geógrafo e livre pensador brasileiro, que nos deixou em 2001, mas cuja inteligência sempre ilumina questões atuais.

O Documentário é um longa-metragem de Silvio Tendler, chamado "Encontro com Milton Santos ou o mundo global visto do lado de cá" e que traz à tela, a partir de entrevistas realizadas com ele, o pensamento do Milton Santos, que entre outras coisas dizia que "a maior coragem, nos dias atuais, é pensar"
Além de uma grande figura, professor, negro, exilado e único brasileiro que recebeu o equivalente ao Prêmio Nobel de Geografia, é alguém cuja produção intelectual pode iluminar muito do que temos por fazer, especialmente para quem trabalha na área de política urbana. Dizia-se outsider e tinha coragem de dizer coisas como "não creio que a dignidade seja propriedade de uma ideologia".
O filme tem momentos interessantíssimos e que fazem pensar, especialmente quando ele trata do processo de globalização,para ele, um fenômeno inevitável, mas que é possível mudar a forma como se processa.
Há muitos momentos que a turma que trabalha como eu com políticas públicas vai adorar, como quando, por exemplo, traz o contraste de um grupo de turistas estrangeiros vai fazer o que chamam de "safári" na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, enquanto moradores da mesma comunidade vão passear e se deslumbrar em um shopping center.
Apesar de muito crítico, o filme é esperançoso e ele diz que "nunca na História da Humanidade tivemos condições técnicas, tal como agora, para criar uma vida digna para todos". Certamente por isso o filme abre com uma frase muito legal de Sartre "eu ainda sinto a esperança como minha concepção de futuro"
Então eu, que também tenho a esperança como concepção de futuro, trago para vocês: a dica, o link do Trailler do Documentário e algumas frases muito legais do Milton Santos. E desejo a todos e todas um Bom Final de Semana e uma Boa Semana também !

PS: Para quem quiser saber mais sobre ele tem muita coisa na Internet, mas tem também um Vídeo com uma Entrevista dele na TV Cultura.

LINK PARA O TRAILLER DO DOCUMENTÁRIO

FRASES LEGAIS DO DOCUMENTÁRIO

"A clarividência é uma virtude que se aprende pela intuição e sobretudo pelo estudo."

"Descolonizar é olhar o mundo com os próprios olhos."

"O consumo hoje é o grande fundamentalismo."

ALGUMAS CITAÇÕES INTERESSANTES DO MILTON SANTOS

"O mundo é formado não apenas pelo que já existe, mas pelo que pode efetivamente existir."

 "O sonho obriga o homem a pensar"

"Quem ensina não tem ódio"
"A cidade é o único lugar em que se pode contemplar o mundo com a esperança de produzir um futuro"
"O território é o dado essencial da condição da vida cotidiana".
"O território tem que ser entendido como o território usado, não o território em si. O território usado é o chão mais a identidade. A identidade é o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é o fundamento do trabalho; o lugar da residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida."

"O território em si, para mim, não é um conceito. Ele só se torna um conceito utilizável para a análise social quando o consideramos a partir do seu uso, a partir do momento em que o pensamos juntamente com aqueles atores que dele se utilizam".

"A memória olha para o passado. A nova consciência olha para o futuro. O espaço é um dado fundamental nesta descoberta."
"O conforto, como a memória, é inimigo da descoberta. No caso do Brasil isso é mais grave, porque esse conforto veio com a difusão do consumo. O consumo é ele próprio um emoliente, ele amolece."

"Os pobres não chegam a ser cidadãos. E nós, a classe média, não queremos direitos, queremos privilégios".

Sabedoria da escassez – "Fui buscar esse conceito em Sartre, quando ele fala da escassez que joga uma pessoa contra a outra na disputa pelo que é limitado. Essa experiência da escassez é que faz a ponte entre a necessidade e o entendimento. Como a escassez sempre vai mudando, devido a aceleração contemporânea, o pobre acaba descobrindo que não vai nunca morar na Ipanema da novela, que jamais vai alcançar aquelas coisas bonitas que vê. Ele continua vendo, mas está seguro hoje de que não as alcançará. "
"Em que medida ser outsider no meu caso não se deve ao fato de eu ser negro? Os prêmios são um dia e vivem no círculo que sabe deles. A minha vida de todos os dias é a de negro. como tal, mantenho com a sociedade uma relação de negro. No Brasil, ela não é das mais confortáveis."

"O fato de eu ser negro e a exclusão correspondente acabam por me conduzir à condição de permanente vigília"

"Ser negro no Brasil é, com freqüência, ser objeto de um olhar enviesado. A chamada boa sociedade parece considerar que há um lugar predeterminado, lá em baixo, para os negros."

 "As técnicas podem ter outros usos que apenas a reprodução de uma suposta ordem universal pré-determinada".

"Não se trata de inventar de novo a roda, mas de dizer como a fazemos funcionar em nosso canto do mundo; reconhecê-lo será um enriquecimento para o mundo da roda e um passo a mais no conhecimento de nós mesmos. Ser internacional não é ser universal e para ser universal não é necessário situar-se nos centros do mundo. Inclusive pode-se ser universal ficando confinado à sua própria língua, isto é, sem ser traduzido. Não se trata de dar as costas à realidade do mundo, mas de pensá-la a partir do que somos, enriquecendo-a universalmente com as nossas idéias; e aceitando ser, desse modo, submetidos a uma crítica universalista e não propriamente européia ou norte-americana. "

"Não cabe, todavia, perder a esperança, porque os progressos técnicos obtidos neste fim de século 20, se usados de uma outra maneira, bastariam para produzir muito mais alimentos do que a população atual necessita e, aplicados à medicina, reduziriam drasticamente as doenças e a mortalidade.
Um mundo solidário produzirá muitos empregos, ampliando um intercâmbio pacífico entre os povos e eliminando a belicosidade do processo competitivo, que todos os dias reduz a mão-de-obra. É possível pensar na realização de um mundo de bem-estar, onde os homens serão mais felizes, um outro tipo de globalização. "
"Não sou militante de coisa nenhuma. Essa idéia de intelectual, apreendida com Sartre, de uma independência total, distanciou-me de toda a forma de militância"

LINK PARA UM PROGRAMA DO GLOBO CIÊNCIA SOBRE MILTON SANTOS


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08/08/2010

Por que apoiamos Dilma? por Mino Carta / Carta Capital


Por Mino Carta, em Carta Capital                                                                                         

Resposta simples: porque escolhemos a candidatura melhor. Guerrilheira, há quem diga, para definir Dilma Rousseff. Negativamente, está claro. A verdade factual é outra, talvez a jovem Dilma tenha pensado em pegar em armas, mas nunca chegou a tanto. A questão também é outra: CartaCapital respeita, louva e admira quem se opôs à ditadura e, portanto, enfrentou riscos vertiginosos, desde a censura e a prisão sem mandado, quando não o sequestro por janízaros à paisana, até a tortura e a morte.

O cidadão e a cidadã que se precipitam naquela definição da candidata de Lula ou não perdem a oportunidade de exibir sua ignorância da história do País, ou têm saudades da ditadura. Quem sabe estivessem na Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade há 46 anos, ou apreciem organizar manifestação similar nos dias de hoje.

De todo modo, não é apenas por causa deste destemido passado de Dilma Rousseff que CartaCapital declara aqui e agora apoio à sua candidatura. Vale acentuar que neste mesmo espaço previmos a escolha do presidente da República ainda antes da sua reeleição, quando José Dirceu saiu da chefia da Casa Civil e a então ministra de Minas e Energia o substituiu.

E aqui, em ocasiões diversas, esclareceu-se o porquê da previsão: a competência, a seriedade, a personalidade e a lealdade a Lula daquela que viria a ser candidata. Essas inegáveis qualidades foram ainda mais evidentes na Casa Civil, onde os alcances do titular naturalmente se expandem.

E pesam sobre a decisão de CartaCapital. Em Dilma Rousseff enxergamos sem a necessidade de binóculo a continuidade de um governo vitorioso e do governante mais popular da história do Brasil. Com largos méritos, que em parte transcendem a nítida e decisiva identificação entre o presidente e seu povo. Ninguém como Lula soube valer-se das potencialidades gigantescas do País e vulgarizá-las com a retórica mais adequada, sem esquecer um suave toque de senso de humor sempre que as circunstâncias o permitissem.

Sem ter ofendido e perseguido os privilegiados, a despeito dos vaticínios de alguns entre eles, e da mídia praticamente em peso, quanto às consequências de um governo que profetizaram milenarista, Lula deixa a Presidência com o País a atingir índices de crescimento quase chineses e a diminuição do abismo que separa minoria de maioria. Dono de uma política exterior de todo independente e de um prestígio internacional sem precedentes. Neste final de mandato, vinga o talento de um estrategista político finíssimo. E a eleição caminha para o plebiscito que a oposição se achava em condições de evitar.

Escolha certa, precisa, calculada, a de Lula ao ungir Dilma e ao propor o confronto com o governo tucano que o precedeu e do qual José Serra se torna, queira ou não, o herdeiro. Carregar o PSDB é arrastar uma bola de ferro amarrada ao tornozelo, coisa de presidiário. Aí estão os tucanos, novos intérpretes do pensamento udenista.

Seria ofender a inteligência e as evidências sustentar que o ex-governador paulista partilha daquelas ideias. Não se livra, porém, da condição de tucano e como tal teria de atuar. Enredado na trama espessa da herança, e da imposição do plebiscito, vive um momento de confusão, instável entre formas díspares e até conflitantes ao conduzir a campanha, de sorte a cometer erros grosseiros e a comprometer sua fama de preparado, como insiste em afirmar seu candidato a vice, Índio da Costa. E não é que sonhavam com Aécio...

Reconhecemos em Dilma Rousseff a candidatura mais qualificada e entendemos como injunção deste momento, em que oficialmente o confronto se abre, a clara definição da nossa preferência. Nada inventamos: é da praxe da mídia mais desenvolvida do mundo tomar partido na ocasião certa, sem implicar postura ideológica ou partidária. Nunca deixamos, dentro da nossa visão, de apontar as falhas do governo Lula. Na política ambiental. Na política econômica, no que diz respeito, entre outros aspectos, aos juros manobrados pelo Banco Central. Na política social, que poderia ter sido bem mais ousada.

E fomos muito críticos quando se fez passivamente a vontade do ministro Nelson Jobim e do então presidente do STF Gilmar Mendes, ao exonerar o diretor da Abin, Paulo Lacerda, demitido por ter ousado apoiar a Operação Satiagraha, ao que tudo indica já enterrada, a esta altura, a favor do banqueiro Daniel Dantas. E quando o mesmo Jobim se arvorou a portavoz dos derradeiros saudosistas da ditadura e ganhou o beneplácito para confirmar a validade de uma Lei da Anistia que desrespeita os Direitos Humanos. E quando o então ministro da Justiça Tarso Genro aceitou a peroração de um grupelho de fanáticos do Apocalipse carentes de conhecimento histórico e deu início a um affair internacional desnecessário e amalucado, como o caso Battisti.

Hoje apoiamos a candidatura de Dilma Rousseff com a mesma disposição com que o fizemos em 2002 e em 2006 a favor de Lula. Apesar das críticas ao governo que não hesitamos em formular desde então, não nos arrependemos por essas escolhas. Temos certeza de que não nos arrependeremos agora.

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