Nossa colaboradora Tássia Regino: "não tem sido algo exatametne relaxante"
Queridos Amigos e Amigas
Os tempos tem andado de difícil e ler jornal não tem sido algo exatamente relaxante. A mesma coisa é com a internet, especialmente os sites espe-cializados em notícias, com sua varie- dade de temas e facilidade se seleção, por vezes só aumentam esta sensação de que a vida está muito complexa.
Mas eu adoro ler
jornais e também sites de notícias, e sempre encontro coisas tão legais que,
como estratégia de fazer as pazes internas com os meios de comunicação, resolvi
dividi-las com vocês. Neste meu momento Pollyanna, só não me peçam prá gostar do
Rodrigo Bocardi e da nova linha editorial do Bom Dia, São Paulo ! rs
rs.
Certamente inspirada
pela Marina, minha neta, começo com uma crônica (publicada na Folha) que deu de
forma linda uma notícia boa: O nascimento do Daniel, filho de
Antonio Prata. Nela o pai dá boas vindas a Daniel com um
esinamento que vale prá nós, especialmente quando a gente lê as más notícias dos
jornais: “A
vida (...) é confusa, Daniel. É confusa, chove, dói dente, costas e outros
costados, mas vale muito a pena”
Depois do Antonio
Prata e do Daniel, trago uma crônica muito legal do Blog do Jun
Sakamoto, Somos Todos Rídiculos, um jeito de homenagear meus amigos que
pensam diferente de mim. Na crônica ele trata desta coisa que tem crescido
muito, que é a dificuldade de lidar com as diferenças entre as pessoas que já
tem feito "ir pro ralo" amizades e relações. Ele
começa a crônica citando uma frase que ele ouve muito e eu também: “Por que
você é amigo de fulano de tal? Afinal, ele defende exatamente o oposto que
você?” Ao longo da crônica ele trata da intolerância, fala da razão das
amizades e conclui sugerindo (o que é meu mantra neste tema) que se busque a
“tolerância no diálogo, mesmo que firme e duro, e se perguntem se acham que
estão certos a todo o momento, uma vez que nossa natureza não é de certezas e
sim de dúvidas e falhas que só poderão ser melhor percebidas no tempo histórico.
“Ah, mas vocês faz isso?'' É um exercício cotidiano de desapego, tenho que
confessar. Mas um exercício necessário.”.
Para o email ficar
mais levinho, trago um texto divertidíssimo do Veríssimo, só
com bobagens, pra fazer rir: Sonoplastia.
E prá completar a
crônica do Fábio Porchat, Colunista, que responde a uma
pergunta que muita gente me faz: “Por que você não faz um Blog?”. O Fábio
Porchat responde por mim: porque já tem “muita
gente que escreve melhor”. Rs rs rs !
Espero que vocês
gostem, que a seleção ajude a ver melhor um lado bom das redes e das noticias, e
que vocês tenham uma semana leve e inspirada !
Abraços
Tássia
_______***_________
DANIEL
Antonio Prata (Folha
de São Paulo - 08/02/2015)
Se esta crônica está
sendo publicada hoje, é porque nasceu o meu filho, Daniel. (Se esta crônica não
está sendo publicada hoje, é porque ele ainda não nasceu, mas, se ele ainda não
nasceu e esta crônica não está sendo publicada hoje, esta frase não tem razão de
ser, uma vez que não será lida por ninguém além de mim e da Andressa, do
"Cotidiano", a quem mando o texto no fim da gravidez, por precaução. (...).
Obrigado, Andressa. Eu não quis dizer que a gente não era ninguém, mas é que as
crônicas costumam ser pra mais do que duas pessoas. Se bem que, pensando melhor,
nem todas. Esta aqui, por exemplo, é pra uma pessoa só. Afinal, como eu ia
dizendo até ser interrompido pela visita inesperada de uns parênteses, se esta
crônica está sendo publicada hoje, é porque você nasceu, Daniel.)
Você era ninguém,
agora você é alguém -e, acredite, filho, essa é a coisa mais fantástica que pode
acontecer com ninguém em todo o universo. Eu digo "acredite" porque não é
exatamente um consenso por estas bandas ultrauterinas.
Há quem fique na
dúvida entre ser ou não ser, há quem diga que chove muito ou pouco e que há dor
de dente e nas costas e tantas outras dores do mundo que o melhor seria não ser
ou ser granito ou fumaça, o que dá na mesma. Um homem muito sabido chegou a
dizer que o que todo mundo quer é voltar praquele lugar morninho do qual você
acabou de sair. Talvez ele tenha razão, mas, como a via é de mão única, eu digo
para o seu alento: tem muito programa bom por aqui.
Não sei nem por onde
começar, porque não sei ainda do que você gosta. Eu
e a sua mãe vamos tentar mostrar um pouco de tudo, aí você decide. Carne, peixe,
frango; Palavra Cantada, Ramones, Cartola; mar, campo, cidade; arara, camelo,
avestruz; tinta, massinha, carvão; Corinthians, Corinthians, Corinthians
-lamento, filho, mas, por mais pluralistas que sejamos, há algumas regras que
precisam ser seguidas. Brincadeira, eu vou te amar mesmo que o seu avô te
converta num são-paulino. Mas saiba que isso vai dificultar um pouco a nossa
relação. E muito a minha relação com o seu avô. É uma escolha sua. E do seu avô.
(Tá dado o recado, Mario Luiz.)
Daniel,
prometo que vamos fazer o que estiver ao nosso alcance pra te ajudar, mas desde
já peço desculpas por nossos inúmeros tropeços. Embora estejamos mais
experientes depois da Olivia -duvido, por exemplo, que em vez de pomada pra
assaduras passemos pasta de dentes no seu bumbum (as bisnagas eram idênticas!
Caramba, Weleda!)-, alguns deslizes são inevitáveis.
Esta
crônica tá meio confusa, verdade. É que é difícil esse negócio de dar as
boas-vindas a alguém que chega ao mundo. Não sei se falo do Drummond ou do dedo
na tomada, se calo ou te compro uma bicicleta. Tudo bem, faz parte. A vida
também é confusa, Daniel. É confusa, chove, dói dente, costas e outros costados,
mas vale muito a pena. Você não existia, agora existe: esse é o grande milagre
diante do qual nos curvamos, crentes ou ateus, corintianos ou são-paulinos. Seja
bem-vindo, meu filho, seja o que você quiser, seja o que você puder, desculpa
qualquer coisa -e cuidado com as tomadas.
Leonardo
Sakamoto (Blog do Sakamoto - 30/01/2015)
Certas
frases soam para mim como um estalar de martelo em uma bigorna. “Por que você é
amigo de fulano de tal? Afinal, ele defende exatamente o oposto que você?” Aí
sou obrigado a escutar um rosário de argumentos do porquê de uma pessoa X, Y ou
Z ser inapropriada para o convívio social, dado os seus posicionamentos
políticos, escolhas profissionais ou credos religiosos.
Gastei
um bom tempo tentando explicar a razão de algumas amizades hoje. Daí, achei por
bem resgatar este texto que já foi publicado aqui com a ressalva de que se você
é daqueles que fazem questão de se cercar apenas de pessoas exatamente iguais a
você, meus pêsames. Sua vida é monocromática demais.
Talvez
o sobressalto e a tentativa de me convencer a largar mão de almoçar com alguém
que considero agradável sejam até maior pelo fato de me enxergarem como uma
pessoa progressista.
(Sobe
fundo musical com “A Internacional''. O quê? O japonês é de esquerda? Quer o fim
da propriedade privada? Mas ele tem iPhone! É um hipócrita! Por Nossa Senhora de
Fátima! Ele curte os massacres comunistas! Vou abandonar este blog demoníaco!
Sakamoto, volta pra Cuba, que é seu lugar! Vá ver Cuba lançar
foguetes!)
Quando
dou risada da situação ou insisto na perda de tempo dessa discussão, surgem
teorias para explicar o comportamento humano – afinal, muitos acham que são PhD
no assunto só por terem lido Sabrina:
–
Então, são amigos desde o colégio!
– Não, o cara salvou ele de ser devorado
por uma morsa mutante e, desde então, rola uma dívida de gratidão.
–
Transplante de rim, sabe? Doação…
– Imagina, só é amigo porque o outro lhe
emprestou dinheiro.
– Ah, ele faz isso para provocar e mostrar que é plural.
Um pedante.
Acredito
que meu ponto de vista está correto, mas isso não faz dele uma Verdade Absoluta
– até porque verdades absolutas não existem, nem esta (isso é suficiente para
dar um nó em alguns, mas vá lá). Não mais – ao contrário do que boa parte dos
leitores de blogs acreditam. Uma outra pessoa pode defender que a forma mais
correta de acabar com a fome, a violência, as guerras, a injustiça seja por
outro caminho. Desse enfrentamento de ideias e de propostas sairá um vetor
resultante que apontará para uma direção, dependendo da correlação de forças
envolvidas, dos atores dedicados a isso, da aceitação dessas propostas pelo
restante de uma sociedade.
Não
acredito que o livre mercado seja a solução para tudo, mas há quem diga que sim.
Ótimo, vamos discutir os argumentos que embasam as diferentes posições e não
chamar o outro de canalha ou burro, esquerdista idiota ou direita fascista, e
travar por aí a discussão. Ou pior, defender o fechamento de um veículo de
comunicação.
Discordo
visceralmente de muitas reportagens que leio, mas nem por isso acho que elas não
tenham o direito de vir a público (a menos que tenham sido produzidas para
incitar a violência contra outras pessoas). Pelo contrário, repetindo Voltaire,
discordo, mas defendo o direito de que seja dito. A saída para contrapor uma voz
não é o silêncio, mas sim outra voz (o fato de pessoas que defendem um ponto de
vista semelhante ao meu não terem conseguido construir uma alternativa – ainda –
diz tanto sobre a nossa incapacidade de comunicação quanto sobre o poder de fato
do outro).
Muitos
simplesmente repetem mantras que lêem na internet, ouvem em bares ou vêem na
igreja e não param para pensar se concordam ou não realmente com aquilo. É um
Fla-Flu, um nós contra eles cego, que utiliza técnica de desumanização, tornando
esse outro uma coisa sem sentimentos. Isso é muito útil durante eleições
polarizadas (como,ao que tudo indica, a deste ano), mas péssimo para o
cotidiano.
Somos
seres complexos com múltiplos níveis de relações. Tenho colegas conservadores
politicamente, mas liberais em comportamento que guardo em muito mais estima do
que colegas progressistas politicamente, mas com um discurso e prática
comportamentais bisonhos. Pois não é possível defender a liberdade dos povos e
transbordar machismo, tratando a esposa como uma serva em casa, não é? Crimes
são cometidos e escondidos sob a justificativa de que determinado membro defende
os ideais do grupo e, portanto, deve ser protegido. Seja em uma associação de
produtores rurais, seja em um sindicato de trabalhadores.
É
mais fácil pensar de forma contrária, preto no branco, os de lá, os de cá. Mas,
dessa forma, a vida vai ficando mais pobre.
Sem
o direito ao convívio diário com aqueles que pensam de forma diferente,
estancamos em nossas posições, paramos de evoluir como humanidade. Do outro lado
sempre estará um monstro e do lado de cá os santos. Isso sem contar a
impossibilidade de apreciar tudo o que o outro tem de melhor – do ombro amigo à
conversa inflamada em uma mesa de bar.
De
uns tempos para cá, tornou-se mais frequente ter que defender algumas amizades
publicamente diante de insultos de outros amigos, principalmente depois da
campanha eleitoral do ano passado.
Nunca
pensei que seria necessário dizer isso, mas peço a cada um buscar seu quinhão de
felicidade à sua maneira e deixe que os outros façam o mesmo, considerando o
quão contraditória é nossa sociedade capitalista.
Humildemente,
sugiro que busquem a tolerância no diálogo, mesmo que firme e duro, e se
perguntem se acham que estão certos a todo o momento, uma vez que nossa natureza
não é de certezas e sim de dúvidas e falhas que só poderão ser melhor percebidas
no tempo histórico. “Ah, mas vocês faz isso?'' É um exercício cotidiano de
desapego, tenho que confessar. Mas um exercício necessário.
E
riam mais de si mesmos. Porque #SomosTodosRidículos
_______***_________
SONOPLASTIA
Luis
Fernando Veríssimo (O ESTADO - 01/02/2015)
Carlos
Alberto e Maria Cristina estão num motel. Toca o telefone celular que ele deixou
na mesinha de cabeceira ao lado da cama redonda. É a mulher de Carlos Alberto,
Cynara.
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Carlos
Alberto - Oi, bem.
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Cynara
- Onde você está?
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Carlos
Alberto - Ora, onde eu estou. Onde é que eu estou, todos os dias, a esta hora?
Num engarrafamento.
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!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Cynara
- Vai demorar muito?
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Carlos
Alberto - E eu sei? Há meia hora que eu estou parado aqui. O trânsito não anda.
Só andam os motoboys. Você não ouve a buzina deles, passando?
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Cynara
– Não
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!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Carlos
Alberto (para Maria Cristina, tapando o fone) - Faz barulho de boy.
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Maria
Cristina - Muuuu...
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Carlos
Alberto (tapando o fone outra vez) - Mu, Maria Cristina? Mu?!
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!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Maria
Cristina - Você disse barulho de boi.
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Carlos
Alberto - De boy, Maria Cristina. De motoboy passando e buzinando!
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Maria
Cristina (imitando buzina) - Bi, bi. Bi, bi. Bi, bi. Bi...
Carlos Alberto -
Ouviu as buzinas?
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!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Cynara
- Eu ouvi um "muuuu".
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Carlos
Alberto - Acredite ou não, acabou de passar uma vaca por aqui. Tem vaca na
pista, dá pra acreditar? O trânsito desta cidade está tão bagunçado que tem até
vaca solta...
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Cynara
- Carlos Alberto...
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]--> Carlos
Alberto - Olha, apareceu um guarda. Ó seu guarda! (para Maria Cristina, tapando
o fone) Faz voz de homem. Finge que é um guarda.
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Maria
Cristina (com voz grossa) - Pois não, cavalheiro
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!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Carlos
Alberto - Por que está tudo parado? Estou aqui há meia hora, no mesmo lugar.
Houve alguma coisa?
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Maria
Cristina (com voz de guarda) - Capotou um caminhão carregado de animais, ali na
frente. Espalhou bicho pra tudo que é lado.
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Carlos
Alberto - Boa, boa. Quer dizer, que coisa horrível. Então era uma vaca mesmo que
passou por aqui. Eu já estava pensando que era alucinação minha. Esse trânsito
enlouquece qualquer um!
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!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Maria
Cristina (com outra voz) - Vai uma água aí, doutor?
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!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Carlos
Alberto - Não, obrigado.
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Maria
Cristina (com outra voz) - Biscoito. Olha o biscoito.
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!supportLineBreakNewLine]-->
<!--[endif]-->
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Carlos
Alberto - Não. Ouviu só, Cynara? É só parar o trânsito que aparece vendedor de
tudo...
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Maria
Cristina - Bi,Bi, bi,bi, bi-bi...
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Carlos
Alberto - E não para de passar motoboy!
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Maria
Cristina - Mé..., mé..., mé...
<!--[if
!supportLineBreakNewLine]-->
<!--[endif]-->
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Cynara
- O que é isso?
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Carlos
Alberto - Ovelhas. Devem ser do caminhão que capotou. Nós estamos cercados de
ovelhas.
<!--[if
!supportLineBreakNewLine]-->
<!--[endif]-->
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Cynara
- "Nós", Carlos Alberto?
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Carlos
Alberto - Eu. Eu e o carro. Eu e os outros motoristas.
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Cynara
- Você está com alguém no carro, Carlos Alberto?
<!--[if
!supportLists]-->-
<!--[endif]-->Carlos
Alberto - Olha, o trânsito começou a andar. Vou ter que desligar!
Colunistas
Fábio
Porchat (O Estado de
S. Paulo - 08 Fevereiro 2015)
A
dificuldade de se ter uma coluna num jornal é que muita gente que escreve melhor
que você tem uma coluna num jornal. Não quero fazer comparações, não estou
discutindo talento, aqui. Eu jamais me compararia ao mestre Verissimo, óbvio,
mas que assusta, assusta.
Como
ser engraçado se na página ao lado eu sei que alguém já está sendo hilário e
inteligente ao mesmo tempo? Ou se no jornal vizinho já tem um José Simão fazendo
rir diariamente!!!! E como falar sério, se tem pessoas bem mais indicadas para
falar sério? A minha questão é: sempre vai ter alguém falando aquilo que você
está falando, só que de forma mais clara, esperta, assertiva e
coerente.
Muitas
vezes, eu leio uma coluna e penso: é isso. Quase como que pensando, nem preciso
escrever a minha coluna, o Drauzio já disse exatamente o que eu queria dizer e
muito melhor.
Às
vezes, dá vontade de fazer uma coluna dizendo: não perca tempo comigo, aqui, vá
direto ler o João Pereira Coutinho. Será que, em vez de escrever, eu deveria
continuar a ser apenas leitor? A autocrítica que faço é muito em relação ao que
eu quero falar, que opinião quero dar. Ou melhor, de que vale dar a minha
opinião? Como emitir algum pensamento se o Gregório Duvivier já vai emitir um,
que, inclusive, será o meu daqui pra diante?
Se
tenho alguma percepção do que está acontecendo ao meu redor e quero transpor
isso pro papel, caio em uma armadilha. Se for pra falar a sério, o Contardo
Calligaris é a pessoa certa, se for pra fazer uma observação bem-humorada da
situação o Antonio Prata é o mais indicado. Como emitir uma opinião mais
aprofundada sem antes ler o Roberto DaMatta? E pra que emitir uma opinião mais
aprofundada depois de lê-lo? Já tá lá. Tá dito. Se o Cristovam Buarque falou, tá
falado. Se resolvo falar de futebol, ou qualquer outro esporte, resolvo ler o
Juca Kfouri e o Antero Greco e desisto. Eu nunca vou ser tão neurótico quanto a
Tati Bernardi. Pra que contar histórias, se as do Nelson Motta são tão saborosas
e divertidas? E se resolvo entrar num papo-cabeça, a Fernanda Torres é
imbatível. Eu prefiro lê-la a escrever.
Veja
bem, não é no sentido de competição que eu falo tudo isso, no sentido de que
queria escrever como eles, não. É no sentido de admiração, aprendizado e
interesse. E o meu interesse é ler o Marcelo Rubens Paiva e não me ler,
entende?
Não
estou me fazendo de coitadinho, aqui, não, acho que tenho talento, sim, e acho
que consigo escrever. Mas como é duro ter que emitir uma opinião no meio de
tanta gente boa. O que é ótimo, sempre é melhor nivelar por cima. Claro, existem
péssimos colunistas e esses também são uma inspiração. Pro outro lado, claro,
mas é sempre bom ficar atento aos muito ruins, porque a gente pode estar no meio
deles e não ter se dado conta. E qual é o seu colunista preferido
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