25/08/2014

"Marina e a UDN, 60 anos depois" por Rodrigo Vianna

Marina e a UDN, 60 anos depois

publicada domingo, 24/08/2014 às 21:54 e atualizada segunda-feira, 25/08/2014 às 10:40
A UDN – que levou Vargas ao suicídio, que derrubou Jango em 64 e que há 12 anos tenta encurralar Lula e o PT – é capaz de embarcar em qualquer aventura. A pergunta é: a democracia brasileira, pela terceira vez, fará esse mergulho no desconhecido em 2014?
por Rodrigo Vianna

Se Aécio minguar, o ponto de interrogação vira exclamação: "o jeito é Marina!"
A velha UDN tinha uma estranha fixação por militares. Os candidatos presidenciais udenistas - derrotados por Dutra (1945), Vargas (1950) e Juscelino (1955) – eram sujeitos que vestiam farda: Juarez Távora e Brigadeiro Eduardo Gomes.
Com um discurso moralista, os udenistas (civis ou fardados) colhiam a insatisfação das classes médias urbanas que detestavam as políticas sociais do trabalhismo. Algo parecido com o discurso do atual bloco demo-tucano (que chama Bolsa-Família de “bolsa-esmola”).
A UDN era ruim de voto. Mas boa na agitação golpista: no dia 24 de agosto de 1954, há exatos 60 anos, Carlos Lacerda (principal agitador udenista) e seus aliados militares encurralaram o trabalhismo – levando Vargas ao suicídio.
A UDN seguiu perdendo eleição, até que em 1960 resolveu buscar um candidato “de fora”. Janio Quadros - líder hstriônico, que passava a imagem de não se render aos “conchavos” políticos - finalmente levou a UDN ao poder. ”O jeito é Janio”: foi o slogan de campanha. Mas Janio não era um autêntico udenista. O governo dele foi uma crise só. Janio renunciou antes de completar um ano no poder.
Em 1989, para impedir a vitória do monstro “Brizula” (Brizola e Lula eram favoritos, diante da crise do governo Sarney), a Globo fez o papel de UDN e escolheu Collor. Caçador de marajás, inimigo de “tudo que está aí”, Collor ganhou. Mas caiu 3 anos depois. 

A UDN e o fantasma trabalhista
Em 2014, os conservadores parecem dispostos a embarcar em nova aventura. Depois de 3 derrotas consecutivas, o bloco demo-tucano está dividido. Os setores mais orgânicos insistem com Aécio Neves. Mas parte da mídia, dos bancos e da classe média aceita qualquer nome que seja capaz de derrotar o PT.

19/08/2014

AZENHA E O IMPERADOR BONNER. ELE ESTÁ NU !

Publicado em 19/08/2014

AZENHA E O IMPERADOR
BONNER. ELE ESTÁ NU !

Bonner criminaliza a política para fortalecer a Globo.
Ilustração do Twitter do O Observador

Conversa Afiada reproduz excelente análise do Azenha, no Viomundo: 

UMA EXPLICAÇÃO PARA A POSTURA IMPERIAL DE WILLIAM BONNER DIANTE DE CANDIDATOS



por Luiz Carlos Azenha

Trata-se de um simulacro de jornalismo, que nem original é. Nos Estados Unidos, muitos âncoras se promoveram com agressividade em suposta defesa do “interesse público”. Eu friso o “suposta”. Lembro-me de um, da CNN, que fez fama atacando a “invasão do país por imigrantes ilegais”. Hoje muitos âncoras do jornalismo policial fazem o mesmo estilo, como se representassem a sociedade contra o crime.

William Bonner está assumindo o papel de garoto-propaganda da criminalização da política. Ao criminalizar a política, fazendo dela algo sujo e com o qual não devemos lidar, ganham as grandes corporações midiáticas. Quanto mais fracas forem as instituições, mais fortes ficam as empresas jornalísticas para extrair concessões de todo tipo — do Executivo, do Legislativo, do Judiciário.

A postura supostamente independente de Bonner, igualmente agressivo com todos os candidatos, faz parecer que as Organizações Globo pairam sobre a política, que nunca apoiaram a ditadura militar, nem tentaram “ganhar” eleições no grito. Que os irmãos Marinho não fazem política diuturnamente, com lobistas em Brasília. Que os irmãos Marinho não tem lado, não fazem escolhas e nem defendem com unhas e dentes, se preciso atropelando as leis, os seus interesses. Como em “multa de 600 milhões de reais” por sonegar impostos na compra dos direitos de televisão das Copas de 2002 e 2006.

A agressividade de Bonner também ajuda a mascarar onde se dá a verdadeira manipulação da emissora, nos dias de hoje: na pauta e no direcionamento dos recursos de investigação de que a Globo dispõe. Exemplo: hoje mesmo, no Bom Dia Brasil, uma dona-de-casa do interior de São Paulo explicava como está fazendo para economizar água.

A emissora não teve a curiosidade de explicar que a seca que afeta milhões no Estado não é apenas um problema climático, resulta também de falta de investimentos do governo de Geraldo Alckmin, que beneficiou acionistas da Sabesp quando deveria ter investido o dinheiro no aumento da capacidade de captação de água. Uma pauta complicada, não é mesmo?

A não ser que eu esteja enganado, a Globo não deslocou um repórter sequer para visitar o aeroporto de Montezuma, que Aécio Neves mandou reformar quando governador de Minas Gerais perto das terras de sua própria família. Vai ver que faltou dinheiro.

Tanto Alckmin quanto Aécio são tucanos. Na entrevista com Dilma, Bonner listou uma série de escândalos. Não falou, obviamente, de escândalos relacionados à iniciativa privada, nem em outras esferas de governo. Dilma poderia muito bem tê-lo lembrado disso, deixando claro que a corrupção é uma praga generalizada, inclusive na esfera privada, envolvendo entre outras coisas sonegação gigantesca de impostos. Mas aí já seria coisa para o Leonel Brizola.

03/08/2014

Ariano Suassuna, iluminado.

Por TÁSSIA REGINO

Mais um ser humano queridíssimo e iluminado a homenagear, porque nos deixou! E desta vez é uma perda quase familiar, do tanto que eu gostava do Ariano.
No meio da pancada que é a perda, pensei em duas coisas que podem ser sem importância nenhuma: ainda bem que eu vi ao vivo uma Aula Espetáculo dele e isto ficará comigo pra sempre; e ainda bem que Pernambucano é agradecido e antecipado e conseguiu homenageá-lo em vida na nossa maior festa (Ariano foi o homenageado do Galo da Madrugada, no Carnaval do Recife deste ano!).
Antes que alguém me fale que ele é paraibano, quero deixar registrado aqui o depoimento dele, que o torna meu conterrâneo integral: "A Paraíba é meu estado materno e Pernambuco meu estado paterno." Segundo ele, só depois que chegou a esta equação conseguiu se "libertar dessa dilaceração que desde os 15 anos me perturbava".
Afora tudo que todo mundo já sabe dele, o fato é que ele era uma figura!!! Lembro dele na faculdade com as roupas feitas por costureiras locais, em geral de uma cor só e depois com o seu traje de festas: Terno preto e camisa vermelha (Sport Fino, dizia ele, rubronegro fanático. Ninguém perfeito ! rs rs). Uma figura sempre! Como quando ele fala do amor pela mulher Zélia: "(Zelia) Foi um encontro fundamental para mim. Até o ano de 1951 eu só escrevia tragédia. (....) Depois de conhecer Zélia e entrar no Teatro do Estudante foi que comecei a usar esta veia cômica." Gente, pra mim, isto é o máximo de declaração de amor: ela trouxe o sorriso prá minha obra!
A soma das duas partes, o homem e o artista, faz dele uma dessas pessoas que a gente gosta, tanto pela vida quanto pela obra. 
Na parte da obra, acho impressionante, como ele era universal falando a partir do seu mundo e do sertão especialmente. Era uma arte produzida a partir da vida, mas diferente dela, como ele mesmo dizia: "Eu acho que a arte, por natureza, não é uma imitação do real, é uma recriação. (...) Se fosse para imitar a realidade do dia a dia, melhor seria ficar com a própria realidade". A versão menos séria desta tese ele defendia quando se dizia "um mentiroso que mente por amor a arte" ou quando falava "na minha vida não acontece nada. Se eu não mentir, o que é que eu vou contar?". Noves fora o humor, ele tinha uma frase muito bonita sobre sua missão como artista: "A gente escreve pra celebrar a vida e protestar contra a morte".
No quesito das coisas da vida tem algumas coisas ditas por ele (diretamente ou por seus personagens) que eu listo entre algumas das minhas filosofias de vida: "Quem gosta de tristeza é o diabo" (do Alto da Compadecida) e "Tenho duas armas para lutar (...) o riso a cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver." E agora, no meio das homenagens, aprendi mais uma que vou adotar: "Nunca me perguntaram se eu queria nascer. Mas eu gostei tanto, que eu voltaria cem vezes"
E neste quesito da vida, sem duvida, uma coisa sobre a qual ele pensou muito foi sobre a morte. Acho que ele estava preparado, ou pelo menos, que fez um bom acordo com Caetana. Pra quem não sabe, trago as palavras dele para explicar: "na minha terra, o interior da Paraíba, a morte é uma mulher e tem nome: se chama Caetana. Alias, é o único jeito de eu aceitar esta maldita: que quando venha seja uma mulher e bonita". A Leda Alves, secretaria de Cultura de Pernambuco disse que em sua última aula-espetáculo, na 6ª feira passada, em Garanhuns, ele falou sobre sua morte de uma forma diferente: "No fim da aula, ele sempre diz: ´Não pensem não. Eu não vou morrer, eu me escondo da Caetana. Ela não vai me encontrar´. Mas, desta vez, ele disse assim: ‘Eu sei que vou morrer, mas meus personagens ficarão todos com vocês´". Eu acho, de verdade, que ele tinha feito um acordo consigo, bem falado na frase da ultima aula ( que tem a ver com a obra), mas também em outra frase que tem a ver com a vida: "O homem nasceu para a imortalidade. A morte foi um acidente de percurso. Mas depois que eu me tornei pai e avô, descobri que a família é quase uma imortalidade, porque é uma continuidade"
O fato é que mesmo naquilo que a gente divergia dele era bom ter aquela inteligência do outro lado, prá melhor o nosso argumento. E agora os personagens dele ficarão com a gente, o próprio personagem que ele foi também ficará, mas nós mesmos ficamos sem ele, e por isso, ficamos mais pobres. Mas mesmo triste, prefiro celebrar a alegria trazida por ele !

ALGUMAS FRASES CÉLEBRES DO ARIANO:

SOBRE ELE E A VIDA

“Dizem que todas as pessoas têm um lado bonito. Então acho que sou um círculo”.
"Que eu não perca a vontade de ter grandes amigos, mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas."
"A alma humana divide-se no hemisfério rei e no hemisfério palhaço. O que há de trágico é ligado ao primeiro, e o que há de cômico, ao segundo. O hemisfério rei se complementa com o hemisfério profeta. O hemisfério poeta, com o palhaço. No meu entender o ser humano tem duas saídas para enfrentar o trágico da existência: o sonho e o riso", em entrevista à Folha em 2005.
 “Em duas coisas eu acredito: no sonho e na força do povo”
"Não sou otimista nem pessimista. Acho os primeiros ingênuos e os segundos, amargos. Eu procuro ser realista esperançoso.."
“Eu sou um homem da esperança. Não como a maioria dos velhos, que dizem: “No meu tempo era tudo melhor.” Eu acho que no meu tempo era tudo pior. Melhorou muito. O que me angustia no Brasil, principalmente, é esse abismo entre o país dos privilegiados e dos despossuídos. E olha que está bem melhor, pois baixou a taxa dos que estão abaixo da linha da pobreza para a mais baixa da história brasileira. Ainda assim é um horror (...). Mas isso alenta minha esperança (...).”
"Eu digo sempre que das três virtudes teologais, sou fraco na fé e fraco na qualidade, só me resta a esperança."
"Um marco de minha vida foi a leitura de uma frase d'Os Irmãos Karamazov': 'Se Deus não existe, tudo é permitido'. Sartre tirou essa dúvida, porque a frase é duvidosa. Ele disse: 'Deus não existe, portanto tudo é permitido'. Eu tirei a conclusão contrária, eu digo que nem tudo é permitido e portanto Deus existe. Ou a norma moral tem um fundamento absoluto, ou ficaria ao sabor da opinião individual de todo mundo, inclusive de estupradores e assassinos", em entrevista à Folha em 2012.
 “Quem gosta de ler não morre só”
 “Terceira idade é para fruta: tem a verde, a madura e a podre”

“A humanidade se divide em dois grupos: os que concordam comigo e os equivocados”  (este modesto blogueiro concorda )

A obra que ilustra o texto é de Thiago Amorim. "Mulher Vestida de Sol"